23.1.17

O quarto


Rondou-lhe a cabeceira da cama durante vários dias. Recuou depois mas não abandonou o quarto.
Não é arrogante, não existe vingança. Não é impaciente e muito menos paciente. Não espera, observa. Não é luminosa nem escura. Não tem emoção, tem apenas este poder imenso que lhe confere a dignidade.
Não há luta nem guerra. Também não há entrega.
É densa, tão densa que seria assustadora não fosse o susto já ter morrido.
Sentada estendo o braço para o livro que ela solícita me entrega . Olho-a profundamente e inclino-me quase em vénia perante esse poder. Ela afasta-se para junto da parede.
Velamos as duas quem está na cama.
Ao fim do dia sou obrigada a retirar-me.
Ela fica.

10.1.17

...tão fora daqui



                                                              Oleg Oprisco


...não saber onde é o seu lugar...

Corri mundo, bati a mil portas, quis encontrar mestres, gurus, dizem que aparecem quando o discípulo está pronto, parece que nunca o estive ou então desencontrámo-nos, felizmente.
Estou no azul e no preto, nunca em meias tintas, no fim da ponta de lá e no fim da ponta de cá.
No branco nunca estive, nem no cinzento. O verde existe sempre em diversas tonalidades mesmo quando acredito que já desapareceu. O vermelho é luminoso e o amarelo anda de braço dado comigo.
O meu lugar é onde estiver, quase nunca onde se espera
...tão fora daqui

(agradeço ao Luís Pires o mote)